terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Retrato do Calígrafo de Blumenau



Por Cristiane Soethe Zimmermann

Cao Hering, grande chargista e ilustre personagem de algumas das mais divertidas “lendas blumenauenses” (aquelas histórias curiosas que a gente sempre acha que tem um fundo de invencionismo), presenteou o calígrafo Sylvio Zimmermann Neto com o desenho aí em cima.

Enquanto para alguns pode significar apenas traços hábeis provenientes de mãos destras e mente criativa, para quem possui um pouco mais de envolvimento com o tema e alguma sensibilidade a figura denota mais do que isso. Podemos até arriscar dizer que seria um “Retrato do Calígrafo de Blumenau”.

A profissão - ou hobby para alguns, como é o caso de Sylvio -  quase extinta por essas terras provoca curiosidade, mas também um certo saudosismo. Todos possuem um avô, um tio ou um conhecido de velhos tempos que se aventurava pelas penas e tintas para escrever ditados em alemão, orações, certificados, diplomas e tudo o mais que a formalidade de épocas passadas exigia das letras.

Hoje, com a urgência do cotidiano e as facilidades da tecnologia, são poucos os que se debruçam por horas a fio em uma mesa de trabalho para tirar, como resultado, algumas frases bem escritas.

Este “Rolf” que minuciosamente molha a pena na tinta guardada carinhosamente em um caneco de chope - imagino que daqueles produzidos artesanalmente pelas nossas exclusivas fábricas de cristais, outra raridade em tempos de produção em série - até parece meio desajeitado, tentando equilibrar envelopes, papéis e o corpanzil sobre o banquinho estreito.

No entanto, a sagacidade e a disciplina o levam ao mais próximo da perfeição que ele pode chegar em seu trabalho, na arte de desenhar as letras e transformá-las em objetos de admiração, nos significados atribuídos a cada um desses traços depois de prontos, seja formando nomes em convites de casamento ou reflexões em um quadro que será pendurado na parede.

Tão significativo quanto a figura do “Rolf” é o papel que ele segura em punho firme com os  aturdíveis artigos em alemão que, para os iniciantes na língua são motivos de grande confusão, mais ainda quando surgem as declinações. Imagino que a sensibilidade do desenhista queira aí mostrar que o calígrafo de Blumenau tem na lingua mater seu espelho, seu guia para a ordem e o belo.

O “Retrato do Calígrafo de Blumenau” é, sem dúvida, uma grande homenagem àqueles que preservam suas tradições com seriedade e esmero e um reconhecimento à atividade pouco difundida, mas valorizada por aqueles que a conhecem.

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