Letra "b" Fraktur

Da série alfabeto Fraktur segue a letra "b" minúscula, feita com tinta gouache preta, 

Retrato do Calígrafo de Blumenau

Por Cristiane Soethe Zimmermann

Cao Hering, grande chargista e ilustre personagem de algumas das mais divertidas “lendas blumenauenses” (aquelas histórias curiosas que a gente sempre acha que tem um fundo de invencionismo), presenteou o calígrafo Sylvio Zimmermann Neto com o desenho aí em cima.

Enquanto para alguns pode significar apenas traços hábeis provenientes de mãos destras e mente criativa, para quem possui um pouco mais de envolvimento com o tema e alguma sensibilidade a figura denota mais do que isso. Podemos até arriscar dizer que seria um “Retrato do Calígrafo de Blumenau”.

A profissão - ou hobby para alguns, como é o caso de Sylvio -  quase extinta por essas terras provoca curiosidade, mas também um certo saudosismo. Todos possuem um avô, um tio ou um conhecido de velhos tempos que se aventurava pelas penas e tintas para escrever ditados em alemão, orações, certificados, diplomas e tudo o mais que a formalidade de épocas passadas exigia das letras.

Hoje, com a urgência do cotidiano e as facilidades da tecnologia, são poucos os que se debruçam por horas a fio em uma mesa de trabalho para tirar, como resultado, algumas frases bem escritas.

Este “Rolf” que minuciosamente molha a pena na tinta guardada carinhosamente em um caneco de chope - imagino que daqueles produzidos artesanalmente pelas nossas exclusivas fábricas de cristais, outra raridade em tempos de produção em série - até parece meio desajeitado, tentando equilibrar envelopes, papéis e o corpanzil sobre o banquinho estreito.

No entanto, a sagacidade e a disciplina o levam ao mais próximo da perfeição que ele pode chegar em seu trabalho, na arte de desenhar as letras e transformá-las em objetos de admiração, nos significados atribuídos a cada um desses traços depois de prontos, seja formando nomes em convites de casamento ou reflexões em um quadro que será pendurado na parede.

Tão significativo quanto a figura do “Rolf” é o papel que ele segura em punho firme com os  aturdíveis artigos em alemão que, para os iniciantes na língua são motivos de grande confusão, mais ainda quando surgem as declinações. Imagino que a sensibilidade do desenhista queira aí mostrar que o calígrafo de Blumenau tem na lingua mater seu espelho, seu guia para a ordem e o belo.

O “Retrato do Calígrafo de Blumenau” é, sem dúvida, uma grande homenagem àqueles que preservam suas tradições com seriedade e esmero e um reconhecimento à atividade pouco difundida, mas valorizada por aqueles que a conhecem.

Letra "a" minúscula Fraktur

Passo a passo a letra "a" Fraktur escrita com gouache talens +++737 e com uma pena Brause Nº180 Iserlohn 3mm.

Para este tipo de letra usei 6 veses a altura da pena e usei angulos de 30º a  45º .  Neste primeiro quadro segue a letra passo a passo. E no segundo a ordem da construção da letra. Os detalhes devem ser feitos no fim do movimento com a ponta da pena, mas demora um pouco para conseguir. Pode-se usar neste caso um pena felixível pequena para fazer o acabamento.

FRAKTUR

Letras góticas, especialmente a Fraktur, despertam a curiosidade de muitas pessoas para a caligrafia. Especialmente aqui em Blumenau e região onde existe uma identificação com a cultura germânica.

Literalmente Fraktur  quer dizer fratura ou quebra. O estilo arquitetônico  gótico influenciou  a tipografia e no início do século XIV as letras góticas arredondadas foram quebradas, conferindo traços mais retos a escrita, e deu origem ao padrão Fraktur.


Em uma breve linha do tempo, para  entender melhor, as letras cursivas romanas, unciais, assim como a carolina e diversas letras góticas (primitiva, textura, cursiva e rotunda por exemplo) já haviam se desenvolvido antes da Fraktur.


Eu não encontrei nenhum modelo interessante, passo a passo,  disponível na internet . Portanto vou fazer aos poucos todas as letras com dicas de como fazer.   Eu acredito que mesmo que exista um padrão, cada calígrafo confere um estilo particular a sua letra, portanto  assim que o alfabeto estiver pronto irei batizá-lo com um simpático nome.  Segue imediatamente abaixo a palavra Fraktur com o meu estilo.

E também um detalhe do século XIV.

Prática e persistência!!

As regras para a boa caligrafia são aparentemente simples, deve-se haver uma distribuição
uniforme da grafia com o objetivo de conferir clareza ao texto.  Uma proporção adequada do tamanho das letras em relação ao tipo de pena e a altura e largura das letras também devem ser proporcionais. É importante que o conjunto de letras e de palavras sejam harmônicos para promover a melhor simetria possível. E além de alinhamento  a caligrafia ainda requer um toque de arte para destacar a elegância e a beleza da grafia. Acredito que estas qualidades só são alcançadas com a prática e a persistência. Como diz o ditado alemão "Übung macht den Meister" - o exercício faz o mestre.  Seguem algumas imagens do caos da minha mesa de trabalho durante os meus exercícios.

CAPITAIS MONUMENTAIS

Capitais romanas ou capitais monumentais, compõe uma antiga forma de escrita Romana que serviu de base para as nossas letras maiúsculas. Encontram-se ainda em monumentos públicos em Roma como no Panteão, Coluna de Trajano e Arco de Tito.

Estas letras são caracterizadas ângulos acentuados,  por linhas retas, curvas flexíveis, traços grossos, finos   e serifas.  Antes do século 4, as capitais romanas  foram usados ​​para escrever cópias de luxo de obras de autores classificados como "pagãos" pelos cristãos, especialmente os de Virgílio, existem  apenas três manuscritos sobreviventes usando esta carta, entre eles o Augusteus Vergilius, contêm obras de Virgílio. Depois do século 5 estas letras caíram em desuso.

Eu fiz um pequeno exercício para quem quiser se arriscar a fazer estas letras monumentais. Boa sorte! Eu usei uma pena quadrada  Brauser  nº180 e tinta gouache.